Ela acordou mal humorada, mais uma vez . É mais comum do que acordar sorrindo, na verdade, nem se lembrava da última vez que isso acontecera. Enrolou na cama o máximo que pôde, mas não teve jeito, afinal. Reclamou do cabelo, do dia que estava chuvoso, da falta de café no armário. Saiu escada a fora, reclamando do elevador que estava em conserto. Reclamou da demora – comum – do ônibus, e foi assim pelo resto do dia. Tem sido assim . Ninguém entende , pelo contrário, só criticam o seu jeito tão sério de levar a vida. Ninguém pergunta ou se interessa. Ouço até dizerem que ela nunca vai arranjar alguém. Mas ela sabe o porquê de ser assim, sabe que isso foi consequência inevitável. Sabe que quando a gente perde a última coisa que queria perder na vida, tudo se torna mais amargo. O problema é que nunca fez questão de explicar a ninguém, afinal, o que poderiam fazer para ajudá-la? Dá o melhor de si no trabalho, talvez dê tudo de si. E deve ser por isso que já foi promovida algu